sábado, 14 de fevereiro de 2009

Bolsa Cruz e Sousa
Apenas dois catarinenses inscreveram seus romances para o Prêmio Cruz e Sousa, segundo matéria na imprensa de dias atrás. Este seria um dos motivos da prorrogação do prazo de inscrição para abril. Na mesma matéria, alegava-se que as pessoas normalmente deixam para se inscrever na última hora.

A verdade é que não estamos escrevendo romances porque estamos trabalhando. Sem um salário mensal não teremos como pagar as contas, comer, equipar o computador, pagar a internet banda larga, comprar livros... Ganharás o pão com o suor do teu rosto.

Mal sobra tempo para escrever uma crônica. O romance inacabado observa de longe, no cansaço do olho. O romance requer mente lúcida, saúde, persistência, tempo. A escrita aliada à jornada de trabalho é o caminho mais curto para a desistência ou stress.

Segundo me informei, estão abertas duas possibilidades de premiação no âmbito da Literatura em Santa Catarina, promovidas pela FCC: o Edital Elizabete Anderle e o Prêmio Cruz e Sousa. Ambos premiando obras prontas. Ou seja, nenhum incentivo para obras em andamento ou projetos de romance.

Precisamos de bolsa para escritores. Dêem-nos a oportunidade de trabalhar somente no projeto de um romance, pelo período de um ano, com dinheiro depositado no fim do mês.

Escrever um romance não é fácil. Exige frescor matinal. Ou noite que avança o sinal do corpo. Um romance toma o tempo inteiro do autor, o texto continua na mente enquanto ele vai trabalhar, por exemplo.

Após escrever a primeira versão, começa a etapa do reescrever, corrigir, melhorar. Por vezes o nome de um personagem não soa bem, troca-se, então, por outro, de sonoridade mais condizente com o projeto; enxuga-se o texto; muitas vezes mudamos algumas palavras no intuito de obter um sentido mais original ou poético; tenta-se dar clareza a passagens confusas, ou, de propósito, deixa-se dúvidas, coisas no ar, pois não se pode dizer tudo, muitas vezes é melhor não dizer nada.

Um bom romance precisa de descanso. Para que o autor o retome com um certo distanciamento e assim, novamente e exaustivamente, o reescreva. Talvez decida por mudar a narrativa inteira de segunda para primeira pessoa.

Outra prática comum é solicitar a um leitor amigo para dar uma lida nos originais, o olhar do outro perceberá coisas fora do tom. Em seguida, mais análise, correções, revisões.

Salário mensal em forma de bolsa, depositado todo mês na conta, é o que nós escritores gostaríamos de ganhar do Estado. O suficiente para vivermos dignamente enquanto trabalhamos para engrandecer a cultura literária catarinense. O nome? Bolsa Cruz e Sousa.
In: jornal A Notícia, Anexo, p. 3 (02/02/2009)

6 comentários:

merry disse...

Muito valioso isso que disse, realmente o incentivo a cultura como sempre fica em segundo, terceiro, quarto plano isso quando fica. Um incentivo pode ser o chute inicial para um grande escritor(a) assim como você.
Parabéns!

Anônimo disse...

Olá, Suzana... enfim alguém falou algo pertinente sobre bolsa de criação. Vou me inscrever no Edital Anderle e, tambem, no Cruz e Sousa, mas sabe...penso em desistir, às vezes., pois queria muito ter mais tempo p/ aprimorar meu romance, degustá-lo, cheirá-lo, viver p/ ele neste momento... Temo nao ser selecionada por um nome de personagem que nao "soou" bem aos ouvidos dos pareceristas... E é isso, linda Borboleta, espero que suas asas sejam ouvidas.

Suzana Mafra disse...

Merry,
Conheço escritores jovens talentosos, inclusive em Brusque. Uma bolsa seria a possibilidade da certeza em relação ao ofício.

Bianca
Que bom saber dos seus planos e sonhos.

Unknown disse...

Excelente o teu "Borboletras no quintal", Suzana!
Revela-me uma excelente cronista e preciosa poeta. Um texto de linguagem sucinta, contida; verbo econômico - palavras de luz!
Com prazer renovado, prometo, ler com mais vagar este teu belo e encantador vôo literário.

Parabéns pelo talento e criatividade!

Eugenio Santana
Escritor, poeta e jornalista mineiro, radicado em Anápolis-GO.

Igreja de Deus de Colorado disse...

Alô suzana, compreendo bem o que diz!... Sou poeta, romancista, pastor e professor... Viver dignamente para dedicar mais tempo é um sonho, afinal, o texto precisa mesmo ser cheirado, degustado, achar a sonoridade perfeita... Coisas como essas que fazem a alma procurante encontrar a fala que a preencha um pouco mais. E isso? leva muito tempo!
Paz e vida ao seu coração!

eliel eugenio de morais disse...

Alô Suzana, compreendo bem o que diz. Afinal a palavra é mesmo procurante da sonoridade perfeita, da coloração necessária para encantar a alma procurante. O texto precisa mesmo ser cheirado, degustado, visto que é caçador de si e do outro. Achar isso pode levar muito tempo... Ter dignidade para fazer isso é um doce sonho. compreendo o que diz. Sou escritor, professor e pastor. Tempo? Como dizia Cecília, quão bom seria recuperar sua demora!
Paz e vida ao seu coração!
Eliel E. Morais
Colorado do Oeste - RO