segunda-feira, 26 de novembro de 2007

Lagoa do Peri

em estado de graça

a garça ri

quarta-feira, 21 de novembro de 2007

Poema para meu avô

meu avô, não conheci
a casa ainda existe

meu avô tinha livros -
comerciante e erudito

os filhos de meu avô
tomaram outro rumo

o meu avô (ausente)
nos deixou de presente:

cestos
que trançou com as mãos

e textos
os lusíadas de camões

sexta-feira, 9 de novembro de 2007

Caminho com meus dois braços e sem nenhum abraço, onde ainda sobra espaço, com meu passo e sem compasso definido. Com minha vontade de chegar ou partir, de entrar ou sair, de prender ou soltar, movimento-me. O corpo-asa voa. Nunca sei direito se meus braços estão prontos para o vôo, mas vôo assim mesmo. Vou para os desfiladeiros, para os limites, para as confluências. Muitas vezes volto com minhas asas alquebradas. Sei por onde estive pelo rasto de tinta que ficou na estrada. Isso tudo são detalhes. A boca é que mede o gosto da cereja. Há que se romper limites. Assim tece-se um destino, apesar do desatino. Ávida vida. Asas escrevendo o improvável destino. Um vôo indefinido, uma ruptura, uma asa a desdobrar-se sobre o papel branco, escrever é voar, aceitar aquela palavra que saiu da nossa boca por engano, ou sem plano algum de vôo. Escrever é dizer: o texto está pronto. Mesmo que lá dentro arranhe a vontade de construí-lo eternamente, de meter-lhe um martelo e quebrar os limites do céu. Chover-lhe meteoros.

quinta-feira, 8 de novembro de 2007

Uma ave pousa na ponta do banco, uma ave sob a árvore, sobra da rotina do azul do dia, uma águia que se bica, enquanto caminho em direção ao beco (sem saída). A saia da mulher se dobra quando ela senta, a asa da ave se abre, se desdobra num vôo-árvore, pousa uma flor no galho retorcido, a mulher retorce o jornal não lido, descansa da lide, na capa do jornal o descaso, no céu o sol ocaso, no ar calor, agora o banco vazio e largo, sem ave, sem mulher, sem dor, sem cor, sem se dar conta da tristeza do banco um menino apóia o pé para amarrar o cadarço do tênis, não vê a ave, nem ouve o canto, olha para os pés do banco apoiados no barro, nenhum espanto, não vê a formiga que passa, mas ouve um berro formidável do outro lado da praça, o chamado de um amigo, se vai, talvez não volte mais, um pedaço de praça foi o que sobrou, foi o que se permitiu sobrar quando os sobrados deram lugar aos edifícios e os carros se multiplicaram geometricamente, estratosfericamente. Sobe no céu a lua redonda, um refletor sobre o banco solitário, brilhante, belo.

segunda-feira, 5 de novembro de 2007

Espelho

Capinar
Arrancar todas as ervas daninhas
Mesmo aquela de flor bonita?
Todas
Tolas
Bonita flor aquela a esmo
Danadinhas aves de asas brancas
Rapinas