domingo, 14 de junho de 2009

Viajar é preciso - 4


QUARTO DIA - TERÇA-FEIRA – 09/07/2009

Gaivota, não fique triste, logo, logo, estarei de volta.

Café da manhã numa padaria, em Jurerê. Aproveitamos para passear um pouco. Nenhuma vontade de retornar a Brusque e deixar Florianópolis, a cidade que nos recebeu com carinho, sol e ondas.

Nosso último dia também seria aproveitado. Fizemos o caminho pelo Ingleses para chegar à Lagoa da Conceição, passando por Moçambique, Mole, avenida das Rendeiras.

Fazíamos tudo tão devagar que chegamos no centrinho da Lagoa perto da uma da tarde. Almoçamos num restaurante a quilo que funciona dentro de um pequeno shopping. Durante o almoço, conversamos sobre as possibilidades da tarde. Decidimos que sairíamos da Ilha após às dezenove horas, assim fugiríamos do engarrafamento que ocorre na ponte que liga a Ilha ao Continente.

Mal almoçamos, pegamos o carro e nos dirigimos à Joaquina, parando nas dunas. Alugamos uma daquelas pranchas para surfar na areia, esporte que seria mais praticado por ele. Eu tentei atingir o topo de algumas das montanhas de areia.

No deserto você não consegue esconder nada. Os seus desertos internos afloram. De início há um impacto, quase uma vertigem. Aos poucos, nos acostumamos à ausência de vegetação, à areia no corpo, ao vento e aos passos que se afundam.

Então você passa a compreender a cultura dos povos do deserto, pois se sente um deles. O deserto ensina a força para resistir, superar obstáculos. Conhecendo os próprios desertos você abre a porta para conhecer os dos outros.

Deslumbramento e comunhão com o silêncio. Pés fincados no chão que se move. Assim é a vida: nada é permanente. Manter-se equilibrado sem nenhum suporte, eis o grande aprendizado da jornada entre a vida e a morte.

sábado, 13 de junho de 2009

Viajar é preciso - 3


TERCEIRO DIA – SEGUNDA-FEIRA (08/06/2009)

Avistar a praia do alto é um ensaio para os olhos. Estacionamos o carro no canto esquerdo da praia Brava, ao lado da vegetação preservada, lugar repleto de pássaros.

Eu de tênis, ele descalço, subíamos a trilha. Levamos o chimarrão para tomar em algum lugar que nos agradasse. Bem no começo da subida encontramos um pescador, olheiro de peixe, estava de olho nos possíveis cardumes de tainha. Mostrou os barcos na praia. Havia um código entre eles, trabalho de equipe. No outro costão olheiros faziam a mesma coisa. Prometeu nos dar um peixe caso a pesca fosse boa.

Continuamos a trilha. Logo encontramos o local ideal para tomarmos nosso chimarrão, uma pedra enorme encravada entre o mar e a montanha, com vista fantástica e cercada pela vegetação, de tal maneira que não escutaríamos ninguém, nenhum barulho que não fosse aves, ondas, pássaros.

Decidimos trilhar mais um pouco antes da parada. Passamos por um barraco construído nos espaços vazios de uma pedra gigante, dizem que um homem vive ali. Continuamos mais uns quinze minutos, desce, sobe. Dava pra ter ido mais, decidimos voltar à nossa pedra particular com vista pro mar.

Chimarrão combina com natureza. Do alto da pedra, tentamos encontrar cardumes de tainha. Não sabemos ver isso, não temos olho treinado. Mas sabemos distinguir fragatas de urubus e urubus de gaivotas e gaivotas de andorinhas. Devia ser meio-dia quando decidimos voltar para almoçar no carro. No caminho encontramos o olheiro que não estava só, o filho viera lhe fazer companhia.

- Olha lá, gritou, um cardume!

Confesso que custei a ver. Primeiro, uma sombra em movimento na água, tudo que vi. Em seguida, a sombra se transformou num aglomerado de peixes prateados, que coisa mais linda! Tive a sorte de ver se aproximar mais um cardume, ainda maior que o anterior (fiquei emocionada). O homem não apitou porque os cardumes nadavam em direção à praia da Lagoinha, ou seja, seriam peixes para redes de outros pescadores, ou não.

Nosso almoço foi croissant com vinho branco. Canarinhos rodeavam o lugar em busca de comida. Não nos importamos de deixar algumas migalhas caírem.

Decidimos caminhar, aproveitar o sol, colocar os pés na água sagrada e salgada. Tiramos algumas fotos com o meu celular. Não resisti e mergulhei. A água não estava fria, muito pelo contrário. Desta vez ele não entrou. Acho que fui peixe em outra vida.

Era um tal de barco entrar na água, sair. Era um tal de apito apitar no costão da margem direita da praia, gente corria, cachorro seguia. Parecia uma festa. Gritos. Olhares. Redes. E nós no meio daquele burburinho. Queríamos sim que eles pescassem tainhas. Até gostaríamos de ganhar uma. De manhã cedo pescaram pra mais de mil. Por isso tanta euforia.

Após observar um pouco da movimentação da pesca continuamos nossa caminhada, desta vez no costão à direita da praia. Escolhemos um lugar de pedra e sol para descansar e ver o mar que não nos cansa. Feito duas gaivotas, ficamos imóveis sob o entardecer. Volta e meia apitos, barcos ao mar, gritos, gestos, balançar de camisetas para indicar aos pescadores o local exato dos cardumes. Assistimos de camarote a pesca artesanal da tainha.

Era como se aqueles edifícios todos nem existissem, apenas a praia selvagem e os pescadores.

Não teve tainha na rede. Voltamos de mãos vazias. Ver aqueles cardumes na água, alimentou a alma.


sexta-feira, 12 de junho de 2009

Viajar é preciso - 2


SEGUNDO DIA - DOMINGO - 07/06/2009

Levanto da cama com a maior disposição, sem ressaca, receio de nada. Bom-dia, mundo, lá vou eu! Jurerê Internacional fica ao lado de Canasvieiras. De carro, ouvindo a Itapema FM. Curvas, prédios, sobrados, mar azul com triângulos brancos navegando em sua pele. As casas, em Jurerê, são mansões. Olhamos embasbacados para aquele luxo que não dói nos olhos. Não são do nosso gosto, nem saberíamos viver ou morar numa casa dessas. Medo de quebrar alguma coisa ou sujar, enfim, não me sentiria confortável. Os carros nas garagens são importados, até parece que não estamos no Brasil.

Decidimos deixar chinelos e tênis no carro e sair para caminhar na praia. O biquíni por baixo do agasalho (mulher prevenida vale por duas). Pisar na areia, olhar pra todas às direções, acima, ao lado, abaixo: céu, mar, caranguejos. Vamos, passos que te quero!

Domingo, que dia mais saboroso, segunda-feira combina com banana, domingo com morango. De repente percebemos os cavalos se aproximarem. E não eram poucos. Não me deixou feliz ver a cavalgada se aproximar. Os humanos vivem inventando moda. A faixa de areia da praia é estreita, não cabíamos nós e os cavalos, sentamos no muro de uma casa e esperamos, esperamos. Havia cavalo de toda cor. Acho que mais de cem passaram por nós.

Fomos. Voltamos e paramos na frente do restaurante em que deixamos o carro. Enquanto ele foi ver os preços e comprar uma água, despi-me do agasalho e me atirei na água gelada, mergulhei, nadei, fiz bolhas salgadas, me exibi pras gaivotas, pra duas borboletas que passaram, algumas fragatas e, quando ele entrou, saí para cuidar da bolsa, do dinheiro, dos cartões, do celular, dos milhares de grãos de areia, de um caranguejo do tamanho de um botão de roupa, de mim. Parei para sentir na pele o sol, as gotas, o sal. Parei para nunca mais esquecer.

Quando ele saiu da água encomendamos um petisco. Serviram a cerveja em taças, o copo faz a diferença, dava para ver o mar através do cristal. Pastéis de camarão, eu sei, só de lembrar fico com água na boca.

Mais tarde fomos tomar um chimarrão na Brava. Uma hora tomando chimarrão, tomando ondas nos olhos e marulho nos ouvidos, sorvendo devagar, verde, azul, caracol.

Só isso?

Na volta, deixamos o carro na pousada e fomos ver o pôr-do-sol de Canasvieiras, vinte minutos olhando o sol pegar fogo. Deus pegou fogo em mim, Deus me fez chorar e prometer que nunca mais vou passar tanto tempo sem ver outro e sem senti-lo em tudo que vejo.

Amém.


quarta-feira, 10 de junho de 2009

Viajar é preciso - 1


Quando tudo estava cinza e parecia não haver saída, viajei para Floripa.

Quatro dias numa hospedaria muito simples, sem café da manhã.

PRIMEIRO DIA (06/06/2009)

No primeiro dia, sábado, na ida, decidimos parar no Mercado Público (centro de Florianópolis) para comprar tainha com ova. Mercado apinhado, empurra-empurra. Em seguida, paramos num boteco e, sem mentira, comi a melhor empadinha de camarão da minha vida, você sai andando e se lamentando: pena que só pedi uma.

Explicação necessária: fui sorteada com um pacote de quatro dias. A hospedagem é simples, sem café da manhã. A Viamar tem razão, o que importa é estar ali, sem luxo, sem excesso, tipo assim: você mesma limpa o que sujou. Este sorteio deu direito a quatro dias de hospedagem para duas pessoas por $ 80,00 reais.

Eu mesma fiz o almoço: ova de tainha frita, arroz, salada e vinho branco. Bebemos uma garrafa de vinho branco e fomos caminhar na praia. Eram 12:20 quando coloquei meus pés na areia de Canasvieiras. Dia lindo, céu azul. Decidi, para espanto do meu namorado e de todos que estavam na praia, dar um mergulho. A água não estava fria, talvez por conta do vinho que havíamos bebido. Ele nada muito bem. Eu mergulho feito uma pessoa que adora água: O SOM DO MAR ME SOMA.

Mais tarde fomos passear em Jurerê Internacional. Casas lindas e um pôr-de-sol de dar inveja (tudo lá faz dar inveja). Caminhamos numa espécie de calçada rente às dunas e voltamos pela orla da praia. Após o café delicioso numa padaria do centrinho de Jurerê, descobrimos a lua cheia. Retornamos embevecidos para o nosso ninho. Tainha assada para o jantar. Descobri que o forno era lento, ou seja, não tinha volume de gás suficiente para assar o peixe. O namorado resolveu: retirou aquela peça de metal localizada entre o fogo e o forno. Assim, duas horas depois, o peixe com ervas e batatas estava pronto, a melhor tainha que já saboreei, sei lá, também tenho dotes culinários. Mais uma garrafa de vinho branco. Mais lua.