terça-feira, 24 de fevereiro de 2009

Carnaval

Carnaval é folga. Neste, organizei meu canto de trabalho. Pretendo dar um nome pro espaço, algo diferente de ateliê, biblioteca ou escritório, vou pensando. Mudei tudo de lugar, levei horas, duas estantes com mais de mil livros.

A saída do AN, sem dúvida, representa o fim de um ciclo. Então, que venha o novo. Mas que venha com calma, em ritmo de samba lento.

Reli meu romance e decidi que o melhor caminho é transforma-lo em confete de carnaval.

sábado, 21 de fevereiro de 2009

A última

Cá estou. De olhos embaçados tentando escrever a última.

A mesa é branca, uma dessas de sala de jantar adaptada para o escritório. Faz calor, ouço Milton Nascimento. À minha frente um cartaz do Prêmio Cruz e Sousa, espécie de incentivo. Mais ao lado, um pequeno quadro de Nossa Senhora da Pena, protetora das artes. Sobre a mesa, dicionário de português, de inglês, cds, clipes, grampeador, um copo com suco de goiaba, uma pulseira tirada do pulso (não consigo trabalhar com pulseira).

Deste espaço saíram as crônicas que escrevo como colaboradora do Anexo desde maio de 2006. Logo encontrei meu jeito de escrever. A crônica é um gênero literário que pode ser tudo e ao mesmo tempo nada. As fórmulas são muitas. Como agradar aos leitores, ao jornal e ao mesmo tempo não desagradar a si mesmo? Optei por não desagradar a mim mesma

À minha direita a janela. Mais além a cidade, o rio, a praça, árvores e pássaros. Um fio conectado a outros me possibilitou enviar instantaneamente os textos para o jornal em Joinville, sempre nas sextas até meio-dia para que fossem publicados nas segundas-feiras, uma rotina e um prazer.

Neste computador chegaram as mensagens eletrônicas dos leitores. Algumas chegavam antes de voltar da banca com o jornal. Outras, semanas depois, como a daquele leitor que estava distraído na rua, quando o vento lhe soprou no rosto a folha de jornal, vinda não sei de onde. Nas mensagens, mães me contaram dos filhos e jovens demonstraram preocupação com o futuro do planeta. Teve quem me enviou poema e quem me solicitou opinião sobre namoro.

Respondi a todas. Enviei mensagens a quem nunca vi. Não faço a mínima idéia da cor do cabelo, do jeito de sorrir ou chorar desses leitores. Tentei imaginar se me escreviam de uma ruazinha estreita ou do alto de um prédio. Muitos estudantes me escreveram. Espero que ninguém tenha baixado a nota por minha causa.

Os despertadores tocarão nas segundas-feiras, o pão quentinho chegará nas mesas, um pai pela primeira vez abraçará o filho no caminho da escola, alguém abrirá um cadastro para pegar livro emprestado na biblioteca, um cego passará os dedos suavemente sobre a escrita braille, alguém tomará um café preto num bar, outro entrará apressado na banca pra comprar jornal...

Aprendo mais uma faceta da crônica: a última é a mais difícil de escrever!

sábado, 14 de fevereiro de 2009

2 notícias
A primeira: saiu matéria hoje nos jornais de SC sobre a Bolsa para escritores. A idéia da pauta partiu da minha crônica de 02/02 (veja abaixo). Pena que não entrevistaram nenhuma escritora.
A segunda: fui dispensada ontem do jornal A Notícia.
Alma catarina
Semana passada escrevi sobre a bolsa Cruz e Sousa, que ainda não existe (olhem o meu otimismo, o “ainda” quer dizer que há esperança). Pra minha surpresa, recebi várias cartas, algumas de escritores que concordavam com a idéia da bolsa, outras de escritores me pedindo o endereço eletrônico do tal prêmio. Teve gente que me achou corajosa e teve quem me achou sonhadora.

Por conta daquela crônica, não sou uma coisa nem outra. Apenas penso a respeito das coisas que me rodeiam. Se acredito que o Estado tem condições de bancar algumas bolsas mensais de incentivo à produção de livros, por que não sugerir? O que iria temer dizendo isso? Cargo público só ganha quem é de algum Partido. Alguém ainda sonha que as coisas acontecem de outro modo? Não estou falando de cargos menores, para estes, de vez em quando até se nomeiam pessoas altamente qualificadas sem vínculo político. Tratando-se de primeiro escalão, todos são negociados politicamente, das Prefeituras ao Governo federal.

Quanto ao outro comentário freqüente nas cartas, por que não sonhar? Tudo nasce de um sonho, de uma idéia, da vontade. Escrever um romance, por exemplo, primeiro é um sonho (um dos maiores, porque o trabalho que vem a seguir tende a dar mais vontade de desistir, do que continuar). Reafirmo, sonho possível e próximo: o Estado reservaria uma verba para bolsas, outra para prêmios, e assim por diante. De maneira que a chama do sonho continuaria acesa.

Transformamos o sonho num projeto, como aqueles que nos solicitam pra tudo hoje em dia, principalmente tratando-se de cultura. O que nunca entenderei muito bem, é por que uns são escolhidos, outros não. Inclusive, fico me perguntando o que farão os pareceristas do Edital Elizabete Anderle para aprovar uns, em detrimento de outros, sem sequer pôr os olhos nas produções (tratando-se da categoria Publicações).

Sou pessoa teimosa. Continuo me inscrevendo. E vou aprendendo. O que já aprendi é que prefiro perder um projeto do que pagar para aqueles caras que vivem de fazer projeto.

Costumo acompanhar o resultado dos concursos aos quais me inscrevo. Feito aluno que presta vestibular, verifico os nomes da lista dos aprovados, pesquiso na internet, leio as obras depois, enfim, etapas do processo.

A minha alma pulsa. Santa Catarina merece que participemos do futuro que chega a cada minuto.

O pé de abóbora nasce de uma única semente caída na terra. A planta brota meio desengonçada. Cresce em baraço, folhas e flores. Quando menos se espera, o quintal está cheio de abóboras enormes e coloridas, feito um milagre!

In: jornal A Notícia, Anexo, p. 3 (09/02/2009)
Bolsa Cruz e Sousa
Apenas dois catarinenses inscreveram seus romances para o Prêmio Cruz e Sousa, segundo matéria na imprensa de dias atrás. Este seria um dos motivos da prorrogação do prazo de inscrição para abril. Na mesma matéria, alegava-se que as pessoas normalmente deixam para se inscrever na última hora.

A verdade é que não estamos escrevendo romances porque estamos trabalhando. Sem um salário mensal não teremos como pagar as contas, comer, equipar o computador, pagar a internet banda larga, comprar livros... Ganharás o pão com o suor do teu rosto.

Mal sobra tempo para escrever uma crônica. O romance inacabado observa de longe, no cansaço do olho. O romance requer mente lúcida, saúde, persistência, tempo. A escrita aliada à jornada de trabalho é o caminho mais curto para a desistência ou stress.

Segundo me informei, estão abertas duas possibilidades de premiação no âmbito da Literatura em Santa Catarina, promovidas pela FCC: o Edital Elizabete Anderle e o Prêmio Cruz e Sousa. Ambos premiando obras prontas. Ou seja, nenhum incentivo para obras em andamento ou projetos de romance.

Precisamos de bolsa para escritores. Dêem-nos a oportunidade de trabalhar somente no projeto de um romance, pelo período de um ano, com dinheiro depositado no fim do mês.

Escrever um romance não é fácil. Exige frescor matinal. Ou noite que avança o sinal do corpo. Um romance toma o tempo inteiro do autor, o texto continua na mente enquanto ele vai trabalhar, por exemplo.

Após escrever a primeira versão, começa a etapa do reescrever, corrigir, melhorar. Por vezes o nome de um personagem não soa bem, troca-se, então, por outro, de sonoridade mais condizente com o projeto; enxuga-se o texto; muitas vezes mudamos algumas palavras no intuito de obter um sentido mais original ou poético; tenta-se dar clareza a passagens confusas, ou, de propósito, deixa-se dúvidas, coisas no ar, pois não se pode dizer tudo, muitas vezes é melhor não dizer nada.

Um bom romance precisa de descanso. Para que o autor o retome com um certo distanciamento e assim, novamente e exaustivamente, o reescreva. Talvez decida por mudar a narrativa inteira de segunda para primeira pessoa.

Outra prática comum é solicitar a um leitor amigo para dar uma lida nos originais, o olhar do outro perceberá coisas fora do tom. Em seguida, mais análise, correções, revisões.

Salário mensal em forma de bolsa, depositado todo mês na conta, é o que nós escritores gostaríamos de ganhar do Estado. O suficiente para vivermos dignamente enquanto trabalhamos para engrandecer a cultura literária catarinense. O nome? Bolsa Cruz e Sousa.
In: jornal A Notícia, Anexo, p. 3 (02/02/2009)

quarta-feira, 4 de fevereiro de 2009

Previsão do tempo

Na pele nenhum beijo nenhum
na pele nenhum beijo doce
doce de pitanga
na pele nenhum beiço
nua pele de beijos
nua e branca
lua redonda e fria no céu
dentro o sangue gela
bolas vermelhas de fogo
cinzas de tanto esperar

Vulcão no Japão
tufão em Minas
em mim
mina de carvão