Pra não dizer que não falei de livros
(Colóquio para alunos do Ensino Médio – SENAI)
Na Bíblia tem uma frase que diz mais ou menos o seguinte, diga-me com quem andas que eu te direi quem és. Passando para o universo literário, eu me pergunto e lhes pergunto: com quem andamos, quais os livros que lemos ao longo do caminho, desde nossa infância até o atual momento? Volto no tempo e lembro-me de minha primeira experiência de leitura guardada na memória, quando minha mãe lia a história sagrada numa noite de trovoada, intercalada com outras, como a de João e Maria (Mamãe adorava contar a história de João e Maria, mas nunca nos contava do mesmo jeito, pois inventava). Depois nós contávamos historinhas uns aos outros. Até que chegou a escola e as primeiras linhas lidas. O gato gosta da bola, o gato se enrola feito uma bola e rola. Os contos de fadas. Leitura em família, com a mãe, ou o pai, ou um irmão. Leitura com amigos. Leituras solitárias com a porta do quarto trancada. Leitura de gibis. Empréstimo de livros entre amigos. A possibilidade de falar sobre. Rindo sozinho durante a leitura engraçada de uma passagem do livro. Gargalhando no ônibus, no sofá e até no banheiro. Alguns livros nos fazem chorar. Viramos o rosto no travesseiro e choramos copiosamente. Livros com dedicatória. Para meu irmão João, com carinho e admiração. Para Luísa, pela passagem de sua primeira comunhão. Livros que damos de presente, qual escolher? Um universo para outro universo. O dinheiro que levamos dobradinho no bolso para presentear a nós mesmos. O dedo passando de-va-garinho sobre as capas, a ilustração, o tamanho das letras, o nome do autor que já se tornou nosso amigo, confidente. Livros que nos convidam a anotar coisinhas ou sublinhar passagens (sempre a lápis), livros que esquecemos de devolver a um amigo e cada vez que olhamos nos lembramos do amigo e de nosso esquecimento, livros que emprestamos sabendo que estamos dando. Livros das bibliotecas, com etiquetas na lombada, carimbo e carinho da bibliotecária. Livro que já passou por muitas mãos e olhos, quantas vezes um livro da biblioteca é lido, uma, dez, 100, ou nenhuma? Livro guardado. Livro do sebo, com cheiro de usado, mas com o mesmo texto de um novo, o mesmo conteúdo, por um preço bom. Livro que não emprestamos de jeito nenhum. Livros que passeiam conosco. Na praia, no banco, no intervalo do almoço. Livro em branco com versos espaçados. Livro com folha cheia de letras miúdas. Livro grosso. Livro fino. Livro que se leva uma vida inteira para ler. Livro lido em uma hora. Livro virtual. Livro normal. Se empilhasse todos os livros que lemos um sobre os outros, daria para atingir a altura de uma xícara, de uma mesa, de uma porta? Livro passado de pai para filho. Livro juntado do lixo. Livro atirado no lixo. Livro de ação, aventura, poesia, sexo, romance, livro ao nosso alcance, livro difícil, livro técnico, livro que o autor levou a vida inteira para escrever, livro de auto-ajuda, livro fácil. Quando lemos? Antes de dormir, aos sábados, aos domingos? Deitados, sentados? Com o livro ao colo ou apoiado sobre a mesa? Alguns apóiam sobre o travesseiro. Ler na cama é bom. Um poema antes de dormir. Um beijo depois.
(Colóquio para alunos do Ensino Médio – SENAI)
Na Bíblia tem uma frase que diz mais ou menos o seguinte, diga-me com quem andas que eu te direi quem és. Passando para o universo literário, eu me pergunto e lhes pergunto: com quem andamos, quais os livros que lemos ao longo do caminho, desde nossa infância até o atual momento? Volto no tempo e lembro-me de minha primeira experiência de leitura guardada na memória, quando minha mãe lia a história sagrada numa noite de trovoada, intercalada com outras, como a de João e Maria (Mamãe adorava contar a história de João e Maria, mas nunca nos contava do mesmo jeito, pois inventava). Depois nós contávamos historinhas uns aos outros. Até que chegou a escola e as primeiras linhas lidas. O gato gosta da bola, o gato se enrola feito uma bola e rola. Os contos de fadas. Leitura em família, com a mãe, ou o pai, ou um irmão. Leitura com amigos. Leituras solitárias com a porta do quarto trancada. Leitura de gibis. Empréstimo de livros entre amigos. A possibilidade de falar sobre. Rindo sozinho durante a leitura engraçada de uma passagem do livro. Gargalhando no ônibus, no sofá e até no banheiro. Alguns livros nos fazem chorar. Viramos o rosto no travesseiro e choramos copiosamente. Livros com dedicatória. Para meu irmão João, com carinho e admiração. Para Luísa, pela passagem de sua primeira comunhão. Livros que damos de presente, qual escolher? Um universo para outro universo. O dinheiro que levamos dobradinho no bolso para presentear a nós mesmos. O dedo passando de-va-garinho sobre as capas, a ilustração, o tamanho das letras, o nome do autor que já se tornou nosso amigo, confidente. Livros que nos convidam a anotar coisinhas ou sublinhar passagens (sempre a lápis), livros que esquecemos de devolver a um amigo e cada vez que olhamos nos lembramos do amigo e de nosso esquecimento, livros que emprestamos sabendo que estamos dando. Livros das bibliotecas, com etiquetas na lombada, carimbo e carinho da bibliotecária. Livro que já passou por muitas mãos e olhos, quantas vezes um livro da biblioteca é lido, uma, dez, 100, ou nenhuma? Livro guardado. Livro do sebo, com cheiro de usado, mas com o mesmo texto de um novo, o mesmo conteúdo, por um preço bom. Livro que não emprestamos de jeito nenhum. Livros que passeiam conosco. Na praia, no banco, no intervalo do almoço. Livro em branco com versos espaçados. Livro com folha cheia de letras miúdas. Livro grosso. Livro fino. Livro que se leva uma vida inteira para ler. Livro lido em uma hora. Livro virtual. Livro normal. Se empilhasse todos os livros que lemos um sobre os outros, daria para atingir a altura de uma xícara, de uma mesa, de uma porta? Livro passado de pai para filho. Livro juntado do lixo. Livro atirado no lixo. Livro de ação, aventura, poesia, sexo, romance, livro ao nosso alcance, livro difícil, livro técnico, livro que o autor levou a vida inteira para escrever, livro de auto-ajuda, livro fácil. Quando lemos? Antes de dormir, aos sábados, aos domingos? Deitados, sentados? Com o livro ao colo ou apoiado sobre a mesa? Alguns apóiam sobre o travesseiro. Ler na cama é bom. Um poema antes de dormir. Um beijo depois.