Um rio de águas não amazônicas
no cristalino do olho
torpor de domingo
quintais apertados por cercas
casas que não combinam
nada combina com a natureza pródiga de Deus
Homem-facão
homem-lenha-dor
apenas na outra margem
matas em flor
garapuvulvas amarelo-sol
Para avistar o rio com as mãos
é preciso pedir licença
terras cercadas por farpas
terras com proprietários
Rio de ninguém para cuidar
correndo desembestado
exibindo sacos plásticos
agarrados à vegetação de entorno
rio pedindo socorro
Temo pelos garapuvus
e pelo quati que não vi
Dentro de mim um canto doído borbulha
feito água de rio tortuoso
querendo fugir do torpor
do tédio afogado com pinga no boteco
fugir dos facões e dos homens
que falam manso e cortam fundo
Mil cortes no meu coração-clorofila