segunda-feira, 19 de novembro de 2012

Convite

Convite para lançamento do meu livro, com ilustração de Marcia Cardeal

sexta-feira, 5 de outubro de 2012

Lápis

Instrumento da escrita invisível
um risco para o poeta correr
também uma forma de o poeta
escrever na areia da praia
e ser livre como a gaivota
(sem rastros)
livre dos papéis para organizar
livre dos textos para aperfeiçoar
livre da função burocrática do escritor

(livre da canalhice)

domingo, 23 de setembro de 2012

Reconhecimento

Os garapuvus são meus
os ipês teus
as árvores nuas são de ninguém
a pele tua é musgo veludo
a minha, branca velada

Imagem
natureza morta-viva:
as nossas pegadas na praia da Lagoinha no ano de 1986
estão embaixo da natureza morta e da natureza viva
natureza morta: espinha de peixe
natureza viva: 2 caranguejos

Imagem
natureza móvel:
eu e tu caminhando no vento
faz muito tempo
em algum lugar do mundo, o vento nos leva dentro

Imagem
tu caminhando no parque
reconhecimento de árvores
goiabeira, ingazeiro, ticum
Tutancâmon dorme há mil anos
mil anos te espero no bosque

segunda-feira, 13 de agosto de 2012

Lísias, Ruffato

Comprei no mesmo instante dois livros de dois autores brasileiros premiados e desatei a ler. Quando a leitura do primeiro passara da metade, larguei e peguei o outro. Antes de terminar a leitura do outro, retomei a do primeiro. Em menos de 24 horas, abrangendo parte de dois dias, com as devidas pausas, terminei as duas leituras.

Eu já tive uma fraca vontade de me suicidar, mas nunca colecionei nada, ao menos que eu me lembre. O céu dos suicidas, de Ricardo Lísias, é narrado em primeira pessoa, tem capa bonita, repleta de selos e algumas notas, percebe-se um zelo na concepção do livro, orelha esquerda com a foto do autor que é exatamente igual a como ele é ao vivo, ou ele não envelheceu depois de tirá-la. Na orelha direita uma resenha escrita por um professor da Universidade de Princeton (não li, digamos que, para não influenciar esta análise amadora). O céu dos suicidas é composto de capítulos curtos, começam numa página e terminam na página seguinte. A estampa (mancha) no papel é pequena, deixando espaço suficiente para o leitor descansar. Esse espaço gigante me agradou, podia dar um respiro longo, sentir paz e desejar paz ao personagem.

De que trata O céu dos suicidas? Poderia dizer que o protagonista se sente culpado pelo suicídio de um amigo. Mas não é somente disso que trata o romance. Poderia dizer que o romance faz uma crítica às religiões por não admitirem o céu aos suicidas, mas não é exatamente disso que a obra trata. O melhor a dizer é que o livro fala de coisas que acontecem com pessoas que sentem.

O livro Estive em Lisboa e lembrei de você, do Ruffato, estrutura-se em duas partes. Os parágrafos são longos, escrita corrida, diálogo entretecido no texto, mas destacado por aspas. Tem capa com fundo preto e galos coloridos (a minha ignorância pergunta se esses galos são Cataguases ou portugueses - no verso da página de rosto, nada encontrei a respeito da capa, além do “retina_78”). Traz nas orelhas a foto do autor, idêntica como ele é ou era, no Festival do Conto, onde comprei os livros.

O que essas duas obras tem em comum é que deixam pistas indicativas de serem histórias reais. Ruffato, por meio da nota inicial, declara que a história partiu de um depoimento minimamente editado. Ricardo Lísias depõe em palestras que escreveu o texto a partir do suicídio de um amigo, além de emprestar seu nome ao personagem.

A verdade é que os dois livros são obras perfeitas, bem acabadas. Obras de arte.

A inicial do nome de um, é inicial do sobrenome do outro. O que mais os escritores Luiz Ruffato e Ricardo Lísias tem em comum? Autógrafos ilegíveis.

quarta-feira, 25 de julho de 2012

Lenço de cetim

Laço-de-cetim
floresce todo ano
uma única vez

laço de cetim
laço de alegria
laço de explosão

fogos de cetim
uma única vez
afagos

paixão de festim

Dia do escritor

Agradeço a todos pelas visitas e comentários.

Isso mantém o blog vivo.

Brusque, noite chuvosa de 25 de julho, dia do escritor.




sexta-feira, 6 de julho de 2012

Formigas

Subiram no meu pé

pensaram que fosse um pé de árvore

não me importei com as formigas subindo pelos meus braços

passeando no meu nariz

escalando as rugas da minha testa

brincando de esconde-esconde nos meus cabelos



não havia pêssegos

por isso elas desceram

cruzaram a grama

voltaram ao formigueiro



voltei pra casa

encontrei uma folha no travesseiro

outra no banheiro

ao pentear os cabelos

flores caíram, flores de pessegueiro

terça-feira, 1 de maio de 2012

Coração de plástico

Aquele homem no palco

os cabelos brancos e longos

presos numa borrachinha de elástico


A plateia aplaude enfeitiçada

eu sou difícil de me pegar feitiço


Deus me deu olho que vê tudo

inclusive, coração de plástico

sexta-feira, 6 de abril de 2012

Convite de Páscoa

Leiam o poema Maria e os outros e visitem o blog do Rui de Oliveira para ver a postagem contendo as ilustrações que ele fez para a edição ilustrada do livro Ágape, de Pe. Marcelo Rossi.

Obrigada pela visita.
Feliz Páscoa!

Maria e os outros

Maria saiu pra caminhar sob o céu anil
só resta a Maria caminhar por onde é permitido
sobre o cimento das calçadas
entre prédios, casas e fábricas

por isso Maria vai caminhar na beira do rio
(Maria e centenas de pessoas desconhecidas)
volta e meia encontra uma família de capivaras
e quase sente inveja

hoje Maria encontrou uma árvore com o braço quebrado sobre a calçada
(tão cuidadosas as árvores)
deixou o braço cuidadosamente sobre a calçada
tão educada
não quis atrapalhar o trânsito
nem tirar de casa o senhor da máquina e do guincho
numa sexta-feira santa da paixão de Cristo

Patos

O pato nada sabe do que sinto ou vejo
pescoço escondido em si mesmo

Ninguém se aborrece com o pescoço do pato
Fosse um homem a parar na beira da rua
com o pescoço dobrado e a cabeça enfurnada em si

Ninguém se aborrece com os patinhos
Ninguém se importa mesmo com os poucos patinhos dentro do cercadinho
Último vestígio do mundo selvagem

sábado, 3 de março de 2012

Puma

salta da árvore um ser pesado
salta e se esconde
um veado?
um bugio?
um puma?
veado não salta de árvore
bugio não se esconde em toca
puma, sim, se esconde dos seres brancos e feiosos

é isso aí, bicho
melhor ficar escondido
melhor ficar na tua
melhor ficar na toca

o homem toca a vida
de outro jeito
dança conforme a música
do patrão
vive em ritmo de produção

não se dê ao trabalho de comer esse animal feioso
pode dar indigestão