quinta-feira, 11 de março de 2010

Criança no jardim
Na casa em que nasceu havia um extenso jardim. Imaginem, vocês, aprender as palavras num lugar assim, apontando para a flor e perguntando, e esta, como se chama? Alguém, então, carinhosamente (ou irritadamente) lhe respondendo: rosa, cravo, jasmim. Enquanto ouvia as respostas, a criança sentia as sensações das palavras novas: j-a-s-m-i-m dá uma sensação de veludo na garganta; cravo, uma coisa mais cortada, talvez por causa da música que se aprende do cravo que brigou com a rosa. Coitada da rosa despedaçada.
A criança ouvia a música e tentava entender. Qual motivo havia levado o cravo a brigar com a rosa? Não dava conta de compreender, então voltava a olhar o jardim, onde encontrava outras florezinhas desabrochando.
O mundo das sensações e das palavras. As sensações que as palavras provocam. Deixem-me aqui, pensava, com as minhas sensações. Dêem-me o tempo necessário para ruminar o mundo.
Camélia

Dirão que o velho envelheceu.
Mas então, velho, como é envelhecer?
Diga que envelhecer é não escrever.

Tiraram tudo que o velho não tinha,
menos a mania de brilhar nos olhos.

Rumina um oi,
Rumi na escuridão.

Tira esta roupa velha,
despe a camélia.

Por fora se ri,
por dentro ser rio.