segunda-feira, 13 de outubro de 2008

Sete mulheres e um gato (crônica)

Quando Eunice convidou Gertrudes para o café, esta foi logo alertando: "Não sou boa nisso". "Não faz mal", disse a primeira, "assim tem sido, estamos todas no mesmo barco, ninguém se considera plenamente feliz nisso". "Ou, se alguém se considera, não nos conta", emenda Gertrudes. "Ou não é do nosso círculo", conclui Eunice.

Ao entrar no apartamento vivamente decorado, Gertrudes se sentiu confortável, como se aquelas paredes fossem a roupa que melhor lhe coubesse. Outras amigas já haviam chegado, todas para conversar sobre aquilo. Na verdade, o tema não fora escolha aleatória, nem o café. Eunice desenvolvia uma pesquisa para o mestrado dentro daquela temática.

As colegas chegavam e se cumprimentavam. Algumas se conheciam apenas de vista, outras se conheciam um pouco mais. Não havia, digamos, uma amizade profunda entre elas, daquela capaz de nos fazer até contar segredos. Todas tentavam se mostrar completamente desinibidas. Aliás, não foi difícil desinibir-se, pois, assim que as moças adentravam, a anfitriã lhes oferecia, em vez de café, vinho. O convite sugeria que levassem um livro que abordasse aquilo. Pessoas cultas que eram, nenhuma se esqueceu de levar, aliás, teve quem levou até mais de um.

Havia um gravador ligado na mesa de centro da sala de estar, onde as moças conversadeiras se instalaram aos poucos. Do sexo oposto, apenas o gato, um felino esperto, observador e irônico. O bichano saía da sala nos momentos mais conflitantes da conversa - vê-se que o perfil masculino encontrado nos homens atua também nos gatos, ou vice-versa.

Vinho vai, vinho vem, as mulheres desenrolavam a língua e contavam fatos sobre como lhes fazia bem a presença daquilo ou de como a falta lhes fazia falta. Mas tudo dentro de um certo equilíbrio. Todas se mostravam modernas e desenvoltas, capazes de sublimar aquilo das mais diferentes formas, afinal, eram mulheres vividas, experientes. Se bem que, em algumas situações, pareciam umas tolinhas, umas adolescentes.

Em dado momento, a anfitriã convidou o seleto grupo de sete mulheres para irem até a cozinha servirem-se de lasanha. Serviam-se e retornavam à sala para comerem soberbamente. O único momento em que se fez silêncio. No intervalo entre um prato e outro, uma delas deixou escapar: "Outro pecado interessante, a gula". "Sem dúvida, mas eu gosto mais do outro", emenda alguém, sem pestanejar.

Antes que se dessem por satisfeitas, a anfitriã anunciou que a sobremesa foi servida. Nenhuma se fez de rogada. Entre um doce e outro, voltavam a dialogar sobre aquela questão fundamental, do que seria melhor: isto ou aquilo?

Após o lanche, as sete mulheres já não achavam tanta graça em continuar a conversa, talvez por conta do efeito do vinho que passara, ou por conta de que um dos pecados fora muito bem saciado, ou porque as horas avançavam. Fato é que uma por uma se levantou do sofá em atitude de despedida, alegando coisas para fazer em casa, filhos para cuidar... Foi quando a anfitriã levantou a hipótese de convidar homens para a próxima reunião. Todas acataram de imediato, afinal, eram modernas e democráticas, não tinham intenção de fazer nenhum clube da Luluzinha.

Então estava combinado, para a próxima convidariam homens. Não valia homem casado, apenas solteiro, bonito e gosto... quer dizer, inteligente.

Nenhum comentário: