segunda-feira, 27 de outubro de 2008

Livros e leitura (crônica)

Há muito, muito tempo, no Dia das Crianças, eu e minha irmã fomos presenteadas com um pacote comprido e fino. Eram livros. “Rique-Roque, o Ratinho Sonhador”, de Maria Thereza Cunha de Giacomo, foi meu primeiro livro. Afeiçoei-me a ele instantaneamente. Adorei a história daquele pobre ratinho sonhador com fome de lua, ilustrado por Darcy Penteado. Mais tarde, soube que se tratava de um excelente ilustrador e de uma escritora premiada (o primeiro livro a gente nunca esquece).

Não sei como surgiu meu gosto pela leitura. Venho de uma família grande (13 irmãos). Meu pai cursou somente o primário e minha mãe estudou apenas um ano. Mamãe dizia que se o pai dela a deixasse estudar mais um ano, seria professora. Devido à religiosidade fervorosa de meus pais, as primeiras leituras que ouvi em torno de mim foram das Escrituras e do livro de terço. Penso que as orações e as repetições do terço me prepararam para a cadência dos versos.

Desde bem pequena ia à biblioteca do Sesi pegar livros emprestados (ficava a mais ou menos dois quilômetros de casa), às vezes ia a pé, noutras de bicicleta. É provável que tenha saboreado todos os livros de contos de fadas daquele pequeno acervo. Era um tal de ir e voltar carregando livros, pedalando no mundo da fantasia, voando sobre os morros floridos e encantados. Costumava ler à noite, pois durante o dia ia à escola e ajudava no trabalho da casa ou da roça; a não ser que chovesse.

Selires era o nome da minha professora da quarta série. Certa tarde, pouco antes do término da aula, abriu um livro com cheiro de novo que trouxera da própria casa. Iniciou o que seria uma das mais lindas histórias que já ouvi contarem, com voz pausada e macia. Sábia, encerrava as aulas todos os dias alguns minutos mais cedo, para nos ler um trecho da história. Ah, “Os Cisnes Selvagens”, de H. C. Andersen!

Penso que nascemos com o gosto pela leitura, mas é preciso haver um estímulo externo. Os livros conversavam comigo de um jeito ameno, suave, alegre ou profundo. As verdades ou sonhos lá contidos eram parecidos com o que levava dentro. Por isso, a vontade crescente de chegar a algum lugar por meio do texto, de conhecer a história até o final, para chorar, ou sorrir (feito o cisne ex-patinho feio) antes de dormir.

Depois, vieram outras leituras. Houve a fase de ler todos os títulos (disponíveis nas bibliotecas da cidade), de Laura Ingalls Wilder; os de José Mauro de Vasconcelos (o meu gosto por filosofia oriental começou ali, com o “O Palácio Japonês”), sem contar que eu também tive a minha árvore amiga e confidente (um pé de ingá).

De lá pra cá, muita coisa aconteceu e muito tempo se passou. Muitos livros foram lidos. Ler um livro é ler a si mesmo. É mergulhar no abismo e retornar com uma estrela brilhante.

Não despertou para o prazer da leitura? Ainda há tempo. Eles nunca estiveram tão perto. Basta acessar no computador, dirigir-se à biblioteca mais próxima ou à livraria. Quem lê, cintila.

Um comentário:

Anônimo disse...

Suzana,
Meu nome é Dirajaia e sem querer minha sobrinha (de oito anos) pesquisando na internet sobre o nome de sua avó, descobriu seu texto. Sou filha da Selires, sua professora da quarta série. Eu e minha mãe ficamos emocionadas ao ler seu texto publicado no jornal A Notícia em que vc faz referência a ela como uma fada. Também sou professora e minha mãe sempre achava que eu precisava trilhar outros caminhos para crescer, vendo seu texto ela entendeu o motivo pelo qual eu gosto tanto de dar aulas. Um abraço e muito sucesso para você.
Dirajaia Esse Pruner