segunda-feira, 7 de julho de 2008

Modernos (crônica)

Aconteceria um casamento na família. Cerimônia no religioso. Sabemos que hoje em dia quando se diz que alguém vai casar pode significar se juntar, morar na mesma casa ou apenas casar no civil e não na igreja.
Abro aqui um parágrafo. Não é assim tão fácil ter cem por cento de certeza que esta ou aquela pessoa é a pessoa certa. Como saber? Ora, um apaixonado, enquanto estiver apaixonado, tem a certeza do amor. Dizem os especialistas que paixão tem prazo de validade. Algumas duram mais, outras menos, mas há de ter dia certo para acabar.
Abro outro parágrafo. Amor, dizem, é mais duradouro e mais sábio. Amor é equilíbrio, reflexão. Por isso, amor é menos quente, menos impulso, menos emoção, menos precipitação. Amor é rio, paixão é mar. Amor é o que se vê nos olhos daqueles que compartilharam uma vida inteira. Amor é o que existiu entre Jorge Amado e Zélia (amor e zelo).
Além da paixão e do amor há outras coisas que seguram um casamento ou uma união entre duas pessoas. A promessa feita diante de um padre, o compromisso assumido perante família e sociedade, os bens que teriam de ser divididos em caso de separação, e os filhos, claro. Alguns casais vivem no mar da dúvida, mas tocam o barco adiante, muitas vezes apenas um rema, o outro apenas se deixa levar. Pior é quando remam para direções contrárias.
Luciano e Joice casaram de trás pra frente. Explico: Com alguns meses de namoro ela engravidou. Por conta disso e da paixão que sentiam, juntaram os trapos (modo de dizer), moraram alguns meses num quarto da casa da mãe dele enquanto era construída a casa no terreno dos fundos, que ficou pronta antes mesmo do nascimento da menina. Só então, casaram no civil.
Passados sete anos de convivência (número mágico) eis que anunciam o casamento no religioso. Sete anos, tempo suficiente para certezas. A filha levaria as alianças. As flores seriam brancas, o vestido da noiva prateado, o sorriso do noivo sagrado. A mãe octogenária dispensou a bengala, levou o filho ao altar e foi colocada numa das cadeiras laterais, ao lado da menina que assistia ao casamento dos pais.
Casamento no religioso é uma cerimônia tocante. Quase um teatro. Mas dentro da gente passa um filme de emoções. Os presentes nos tocam e os ausentes nos visitam. O jeito é não passar nenhuma maquiagem nos olhos. Disfarçar. Em último caso foi um cisco ou alergia causada pelo mofo da igreja.
Quando termina voltamos à vida real. Mas aí vem a festa no clube, comida e bebida à vontade, dança, alegria. A menina tira o vestido branco. A mãe zelosa lhe veste a roupa de brincar. As crianças se esquecem no parque do clube. Os adultos relembram da infância, de como eram felizes. De certa forma, o espírito jovem desperta, o tempo se apaga e ninguém mais sabe quantos anos tem.
A noiva joga o buquê. Alguém o agarra: marcada para casar. Assim como tantas outras fizeram antes. Mães, tias, avós. Ou não.

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3 comentários:

Anônimo disse...

Como é bom ver gente feliz, mas feliz de verdade, essa felicidade não precisa durar muito, mas que seja feliz de verdade!

Ane disse...

Adorei o texto!!
Teu blog é maravilhoso, tanto que coloquei o link no meu...rss...

Abraços!!


http://coisasdavidaa.blogspot.com/

ítalo puccini disse...

gostei do título. na leitura que fiz deu a idéia de contradição: casamento e modernidade.

bem escrita.
parabéns!

boa semana ^^