segunda-feira, 14 de julho de 2008

Anotações de moda (crônica)

Até hoje não entendo por que algumas coisas estão na moda e outras não.

Usar sombrinha durante os dias de sol, por exemplo. Já tive vontade, mas não tive coragem. Vejo pessoas de mais idade caminhando no horário do sol quente com a sombrinha aberta, vontade de fazer igual, mas não consigo. Soa tão ridículo para a maioria dos mortais. Sentimental que sou, perceberia o ridículo nos olhos dos outros e meu coração não agüentaria.

Uma moda dessas nos livraria do excesso de sol na pele, seria uma proteção a mais, sem falar no frescor e colorido. Por falar em sombrinha, ganhei uma de uma irmã que viajou ao Paraguai, isso tem uns 20 anos. Fechada, tinha o tamanho da palma da mão. De lona em tom ferrugem, apresentava desenhos de pássaros em revoada. Não deu outra. No primeiro vento, a sombrinha foi voar com seus passarinhos, deixando-me sozinha no meio da ponte, com o cabo na mão.

Outra moda interessante seria a de usar meias de pares diferentes. Não sei onde perco minhas meias. Fica um pé sozinho. Como não tem furo nem nada, sinto pena de jogar fora. O que fazer? Usar um pé com meia e outro sem não dá. Se viesse uma moda dessas, de usar em cada pé uma meia de par diferente, seria ótimo.

Quando me dei conta de que estava vestindo meias de pares diferentes, uma preta com desenho de borboletas e outra listrada em tons de rosa, já era tarde. Estava no trabalho e dependia de ônibus. Passei o dia inteiro me sentindo desconfortável. A nítida impressão de que todos me olhavam (pura ilusão, não sobra tempo de olhar as meias das pessoas... ou sobra?).

Cartas escritas a mão. Eu sei que é um sonho meio tolo. Ninguém vai deixar de escrever no computador, no qual há a possibilidade de correção imediata e envio instantâneo. Porém, sinto falta da parte tátil das cartas, do farfalhar provocado pela fineza das folhas, dos selos feitos com arte colados nos envelopes e de ver a caligrafia das pessoas, ou o jeito de assinar, por vezes rabisco ou desenho acompanhando o gesto.

Logo eu que escrevo meus textos diretamente no computador tenho vivido uma onda nova (ou seria velha?): paixão por caligrafia, pelo gesto de pegar um lápis ou caneta e escrever do próprio punho. Não mais como necessidade de trabalho e sim como um ritual. Não é a mesma coisa ver o texto criar forma no visor ou vê-lo delinear-se sobre o papel. Os caracteres se parecem com pequenos pássaros no céu de luz branca, quando formando grupos de palavras: revoadas.

Por falar em palavras, tem uma moda que persiste há tempo e que, na minha opinião de leiga, está fora de moda. Acho que esqueceram de avisar os estilistas. É o tal do "inglês" nas roupas. Use o português, estilista. Língua tão bonita essa nossa.

Aviso: se você encontrar nos próximos dias uma moça com meias de pares diferentes nos pés, usando sombrinha em pleno sol e caminhando apressada para pegar o correio aberto, talvez seja eu. Agora, se em vez de uma pessoa nessas condições, você encontrar centenas, pode crer, algum estilista me leu.
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3 comentários:

Anônimo disse...

Sou desligada, então já usei muitas meias diferentes... rsrsr

Adri.n disse...

Na minha turminha ja fizemos moda de usar meias e tenis diferentes. Era divertido! E como sinto falta destas cartas que falou, tive meus trinta e tantos correspondentes, só de carta e como era delicioso ler suas caligrafias, e tinha as cartas desenhadas, as perfumadas e as vezes as dobravamos em origami. Já enviei até um tsuru. Com a internet, só resta o e-mail mas ao menos temos o blog da Suzana para ler quando se perde o jornal da segunda, hehe

Guilan disse...

é perfeito.. também gosto de usar meias desparelhadas... e não ligo muito para o que as pessoas dizem..


(a verdade é que não é que eu goste de usar, mas as meias nunca estão juntas de seus pares)