sexta-feira, 30 de outubro de 2009

Cristalina

Um rio de águas não amazônicas
no cristalino do olho
torpor de domingo
quintais apertados por cercas
casas que não combinam
nada combina com a natureza pródiga de Deus

Homem-facão
homem-lenha-dor
apenas na outra margem
matas em flor
garapuvulvas amarelo-sol

Para avistar o rio com as mãos
é preciso pedir licença
terras cercadas por farpas
terras com proprietários

Rio de ninguém para cuidar
correndo desembestado
exibindo sacos plásticos
agarrados à vegetação de entorno
rio pedindo socorro

Temo pelos garapuvus
e pelo quati que não vi

Dentro de mim um canto doído borbulha
feito água de rio tortuoso
querendo fugir do torpor
do tédio afogado com pinga no boteco
fugir dos facões e dos homens
que falam manso e cortam fundo

Mil cortes no meu coração-clorofila

10 comentários:

Regina Carvalho disse...

Seja benvinda, mas não desapareça de novo!
Saudades, bj

R disse...

Olá, Issa. Parabéns pelo blog, tem um belo template e ótimos textos...

Sou acadêmico de Letras-Inglês na UFMT e há 1 ano e "escrevo" há 2. Tenho um blog com alguns textos postados e tenho recebido cascudos de incentivo para divulgar o meu espaço, então, venho humildemente à tua morada deixar um singelo link para o meu blogzinho:

http://turbilhaopsicodelico.blogspot.com

Espero sua visita, e também espero que aprecie. Se não gostar, solte o verbo. Quem escreve dá a cara aos tapas, socos, pontapés, e quem não apanha não evolui.

Obrigado.

Cynthia Lopes disse...

Primeiro Suzana,
QUE BOM TE LER DE NOVO, TAVA COM SAUDADES! Depois,que lindos versos, belo paralelo e um final que cala em nós profundo, em nossos corações-clorofila. bjs

"tédio afogado com pinga no boteco
fugir dos facões e dos homens
que falam manso e cortam fundo

Mil cortes no meu coração-clorofila"

ítalo puccini disse...

que coisa mais linda isto!

como é bom ler seus escritos novamente.

tô com a rê: não desapareça de novo!

=D

beijos.

Carlos disse...

..nenhum facão, faça não, psiu...é o silêncio da árvore. Abraços poéticos.

Camila Fortunato disse...

Oi Suzana...Que lindo este seu poema!
Ítalo me indicou seu blog, e eu gostei muito...Linkei e vou voltar mais vezes.
Beijo

Anônimo disse...

So discordo que a natureza seja tao pródiga e que exista um Deus tao perfeito e poderoso ainda que inteligencia superior sim existe.
Tem alguma coisa nao tao bem certa na vida e no Universo e nos "homens" nao somos culpáveis disso.
Tal vez nossa missao oculta é a de encontrar as falhas e soluçoes...

Anônimo disse...

Faltou dizer que o caminho parece longo e é bom as vezes encontrar refugio num poema...

ManivelasdaMente disse...

Encalhei aqui e ali ao azar das circunstâncias. Finalmente, olhos já cansados de tento ver e ler, encontrei mais um refúgio.

Cynthia Lopes disse...

Suzana, poema de pura sensibilidade, lindo.
bjs