sábado, 13 de junho de 2009

Viajar é preciso - 3


TERCEIRO DIA – SEGUNDA-FEIRA (08/06/2009)

Avistar a praia do alto é um ensaio para os olhos. Estacionamos o carro no canto esquerdo da praia Brava, ao lado da vegetação preservada, lugar repleto de pássaros.

Eu de tênis, ele descalço, subíamos a trilha. Levamos o chimarrão para tomar em algum lugar que nos agradasse. Bem no começo da subida encontramos um pescador, olheiro de peixe, estava de olho nos possíveis cardumes de tainha. Mostrou os barcos na praia. Havia um código entre eles, trabalho de equipe. No outro costão olheiros faziam a mesma coisa. Prometeu nos dar um peixe caso a pesca fosse boa.

Continuamos a trilha. Logo encontramos o local ideal para tomarmos nosso chimarrão, uma pedra enorme encravada entre o mar e a montanha, com vista fantástica e cercada pela vegetação, de tal maneira que não escutaríamos ninguém, nenhum barulho que não fosse aves, ondas, pássaros.

Decidimos trilhar mais um pouco antes da parada. Passamos por um barraco construído nos espaços vazios de uma pedra gigante, dizem que um homem vive ali. Continuamos mais uns quinze minutos, desce, sobe. Dava pra ter ido mais, decidimos voltar à nossa pedra particular com vista pro mar.

Chimarrão combina com natureza. Do alto da pedra, tentamos encontrar cardumes de tainha. Não sabemos ver isso, não temos olho treinado. Mas sabemos distinguir fragatas de urubus e urubus de gaivotas e gaivotas de andorinhas. Devia ser meio-dia quando decidimos voltar para almoçar no carro. No caminho encontramos o olheiro que não estava só, o filho viera lhe fazer companhia.

- Olha lá, gritou, um cardume!

Confesso que custei a ver. Primeiro, uma sombra em movimento na água, tudo que vi. Em seguida, a sombra se transformou num aglomerado de peixes prateados, que coisa mais linda! Tive a sorte de ver se aproximar mais um cardume, ainda maior que o anterior (fiquei emocionada). O homem não apitou porque os cardumes nadavam em direção à praia da Lagoinha, ou seja, seriam peixes para redes de outros pescadores, ou não.

Nosso almoço foi croissant com vinho branco. Canarinhos rodeavam o lugar em busca de comida. Não nos importamos de deixar algumas migalhas caírem.

Decidimos caminhar, aproveitar o sol, colocar os pés na água sagrada e salgada. Tiramos algumas fotos com o meu celular. Não resisti e mergulhei. A água não estava fria, muito pelo contrário. Desta vez ele não entrou. Acho que fui peixe em outra vida.

Era um tal de barco entrar na água, sair. Era um tal de apito apitar no costão da margem direita da praia, gente corria, cachorro seguia. Parecia uma festa. Gritos. Olhares. Redes. E nós no meio daquele burburinho. Queríamos sim que eles pescassem tainhas. Até gostaríamos de ganhar uma. De manhã cedo pescaram pra mais de mil. Por isso tanta euforia.

Após observar um pouco da movimentação da pesca continuamos nossa caminhada, desta vez no costão à direita da praia. Escolhemos um lugar de pedra e sol para descansar e ver o mar que não nos cansa. Feito duas gaivotas, ficamos imóveis sob o entardecer. Volta e meia apitos, barcos ao mar, gritos, gestos, balançar de camisetas para indicar aos pescadores o local exato dos cardumes. Assistimos de camarote a pesca artesanal da tainha.

Era como se aqueles edifícios todos nem existissem, apenas a praia selvagem e os pescadores.

Não teve tainha na rede. Voltamos de mãos vazias. Ver aqueles cardumes na água, alimentou a alma.


2 comentários:

Cynthia Lopes disse...

Suzana, essa tua viagem nos alimentou a alma! obrigada, bjs

merry disse...

Mãos vazias mas o coração cheio de boas imagens.
bjs