(poema de Alcides Buss)
Estavam todos ali.
As casas tinham jardins
e, nos jardins, insetos e pássaros
teciam os dias azuis.
Bem perto, o rio
levava as tardes, exaustas,
e trazia as manhãs
repletas de tudo que vai
nos bornais de cada um.
Das casas e do rio
honravam-se as crianças e seus pais,
os parentes e amigos,
a tribo, enfim, do dia-a-dia
moderno e secular.
No cotidiano servir
não cabia vislumbrar a sina cíclica
sob a túnica do céu.
Preciso era desnudar os deuses
e aí, sim, buscar esse saber
que desconstrói o sonho
para, em novo patamar,
refazê-lo mais próximo
das humanas serventias.
Que a ira lá do céu
tão forte fosse desabar
na cabeça dos mortais,
isso ninguém pensava
até bem pouco, nos dias
que, rápidos, se vão.
De tal forma caiu
que rasgou a tessitura
do verde com o chão;
rasurou a geografia;
as entranhas domésticas
turvou e, das dores a maior,
ceifou de muitos o cordão da vida.
Perguntam-se as almas espontâneas
se merecida era tal desdita.
A resposta que ganham
é um fio de voz
no aparato das ajudas, bem-vindas,
incapazes, porém,
de fazer voltar a vida
ao que era até então.
Alcides Buss é um dos mais queridos poetas de SC. Publicou mais de dez livros de poesia. Criador dos varais literários e do Movimento de Ação do Livro: o Livro em Movimentção.
Um comentário:
Adorei! VOu procurar o livro desse autor! Por favor visete meu blog... sou novata na área!!
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