segunda-feira, 9 de abril de 2007

Quintal (Crônica)

Cadê o menino? Está brincando no quintal. Joga bola contra o muro. E a filha? Também no quintal, pendurando roupas no varal. Vovó? Bordando. Letícia? Lendo.
Quintal é lugar de avencas, tanque de pedra, sombra, parreira de uvas, pé de goiaba. Quintal é lugar de muitas coisas; é aquele espaço entre a casa e a rua, nos fundos, entre os muros. Também é um lugar onde se faz e se não faz, se pensa e se repensa, se olha para nuvens, se alcança uma estrela, se brinca, cresce, se espelha. Espaço para correr, pular, descobrir, guardar bicicletas ou coisas sem serventia, soltar o pensamento feito pipa, na divagação e no vento, respirar lento. O quintal é um espaço privado, diferentemente da rua, porém não é fechado, feito a casa. Saboroso, porque alimenta com frutas e horta; colorido, porque a céu aberto; perfumado, porque floresce e enverdece. Todo quintal tem som e ritmo próprio, de acordo com os que o habitam. As pessoas, a rua, a casa, as árvores, as folhas, o vento, a chuva, o cheiro, os pardais, tudo isso tempera um quintal.
Quintal é lugar de conversa, fofoca, namoro, legumes, plantas, lazer, música, comida. Para deitar na rede, esmorecer, cultivar laranjas e limões, lavar roupas, pisar na grama, olhar formigas, jogar o tempo fora. Apropriado para as tralhas que não cabem na casa, para o pessegueiro florir, para de repente receber a visita de beija-flores, para um canteiro de flores, para momentos de amores. Para semear temperos. E se ao jogar semente fora, nascer um pé de planta corredeira, deixe-a crescer e tomar forma, a dádiva da natureza, sem muita demora, de uma simples flor amarela, nascerá uma abóbora. Ensina o dicionário que a palavra “quintal” quer dizer pequena quinta, ou terreno, geralmente com jardim ou horta, atrás de casa.
Se houver um banco sob o pé de goiaba, ou sob a parreira de uva, ou ainda, sob uma buganvília florida, será lá, que no meio da tarde de um dia comum ou de fim de semana se observa um por de sol, aspira o perfume do jasmim, o cheiro das roupas limpas no varal, a leitura de um livro ou jornal, um papo com o vizinho, limonada entre amigos ou, quem sabe, o almoço de domingo.
Em Brusque, o mais novo e delicioso espaço é o restaurante Quintal. Fica na Rua Azambuja. Lá você saboreia arte e almoço natural, podendo visitar a horta, de onde são colhidos os produtos utilizados no preparo das refeições. Tudo orgânico, dentro das normas da saúde plena e do sabor autêntico, com direito a música seletiva e um bom papo sobre alimentação com os proprietários. Espaço para exposições de arte, lançamento de livros, performances... A exposição atual apresenta algumas das primorosas ilustrações para livros infantis da artista Márcia Cardeal (do livro Pomar de Palavras / Alcides Buss, Casa Amorosa / Inês Mafra, dentre outros)... Enfim, um lugar que alimenta corpo e alma.
In: Caderno Anexo (Jornal a Notícia - 09/04/2007)

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