segunda-feira, 16 de junho de 2008

Carta para Adriana Lisboa

Adriana,

Em Brusque tudo igual. Isso não é uma boa notícia. Quer dizer que o rio continua sendo poluído, os morros desmatados e transformados em loteamentos, e a nítida impressão de que as pessoas não estão nem aí, ou angustiadas em seu canto, feito eu.

Já te falei numa outra carta que, de certa forma, não simpatizei contigo num primeiro momento, foi durante o programa de entrevista da TV Educativa (agora TV Brasil) chamado "O Mundo da Literatura".

O jornalista fazia umas perguntas meio óbvias e você dava respostas completamente diferentes, quase denotando arrogância. Você, tão jovem, falando daquele jeito... Na verdade, era o entrevistador que não dava conta das tuas respostas, ou não te conhecia. Enfim, não foi este primeiro momento que me motivou a te procurar. Além disso, são tantos os autores e títulos publicados nacionais e internacionais que nos chegam.
Qual escolher?

Durante a leitura do "Rascunho" (jornal literário de Curitiba), topei com você de novo, no artigo "Como se constrói um personagem", de Antônio Torres. Desta vez, fui ao Google pesquisar, digitei "Adriana Lisboa" e encontrei teu site. Tudo me encantou, amor à primeira vista. Mas ali havia apenas resumos dos teus livros, as capas, os prêmios e uma espécie de resenha biográfica.

Em Brusque há apenas três livrarias, sendo que duas delas são papelarias. Foi na livraria que vende apenas livros que encontrei teu "Rakushisha". Confesso que não entrei lá à tua procura, minha intenção era comprar um presente para um amigo que aniversariava, mas dei de cara com teu livro, lindo, capa ao meu gosto.

Acabei não comprando naquele momento o presente do meu amigo e me dei de presente teu livro. Iniciei a leitura na mesma noite. Pressa e ao mesmo tempo receio. O paradoxo da leitura de um livro bom: querer e não querer chegar ao fim.

Quem lê um quer ler mais. "Um beijo de Colombina" foi comprado numa das minhas idas a Floripa, durante as férias. Novamente a sensação de não conseguir desgrudar, levantava o rosto apenas para um respiro mais profundo, vontade de entrar, mergulhar no mar, nadar. Nessa época já conhecia teu blog, que por sinal é ótimo, pois com o mesmo jeito aparentemente displicente com que narras teus livros, discorres sobre temas os mais variados.

Foi na Feira do Livro de Joinville (abril) que o "Língua de Trapos" me acenou de um estande. Rui de Oliveira, numa das poucas mensagens que trocamos, comentou que ilustrara um livro teu de poesia (classificado pela Rocco como livro infantil). Foi meu presente de fim de feira, me acompanhou na rodoviária solitária. Enquanto o ônibus deslizava veloz a Brusque, eu e minha bonequinha de trapos, abraçadas, olhávamos as estrelas minúsculas luzirem no céu.

Não tenho pressa, cada livro teu me chega de uma forma especial. Não quero que acabem, gosto de saber que falta ler alguns. Tento me equilibrar entre o desejo de ler todos e o de guardar um pouco para saborear mais tarde, feito um doce raro.

Abraço e sol!

Suzana

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Um comentário:

poesia potiguar disse...

Uma carta de uma poeta para outra. Cheia de lirismo, como tem de ser.
Sinto a mesma sensação quando leio os livros da Adriana... Um querer que deseja se prolongar por horas, dias, semanas. Quereres poéticos.

Parabéns pela carta-relicário.

abraços!